segunda-feira, 27 de outubro de 2008

"Ver com os Ouvidos" a.k.a projecto

Primeiro vou recriar o brainstorm para chegar a ideia do projecto sobre a tal visibilidade/invisibilidade. Já para avisar que as vezes as minhas associações não são as melhores.
Tudo começou com Nevoeiro. Quanto maior for a distância em que nos encontramos de x objecto, menos nítido este se torna e temos menos luz = mais azul i.e. torna-se céu (luz + partículas constituintes do ar= azul; logo, quanto mais ar = menor visibilidade do Mundo). Para podermos ver nessa "invisibilidade" precisamos de mais luz ergo lanternas. 
Daqui pensei em fazer uma instalação onde através da luz se pudesse ouvir para complementar a falta de visibilidade. Mas tem de haver algo que tentemos ver = formas/objectos que não tenham uma forma específica.

Através do Max Msp (programação) é possível fazer com que uma imagem possua dados de som, que sejam "reproduzidos" quando apontamos um foco de luz.
Assim sendo, o observador/participante quando entrar dentro desta sala cheia de objectos, lhe é dado uma lanterna e uns auscultadores e poderá passear pelo espaço como este bem entender. Uma lanterna daria uma luz ainda com um, digamos, diâmetro bastante grande e eu não queria que o espectador consegui-se ouvir/ler os dados a uma distância muito afastada do objecto. 
Desta forma, em vez de lanternas era melhor se o espectador tivesse umas luvas e pudesse sentir esses objectos (existem umas luzes que são recarregáveis que se colam aos skates e que poderiam ser coladas nas luvas. 
Pretendo então que o espectador descubra objectos, não através da sua existência visível, mas sim através do som que lhe vai descodificar aquele objecto que se encontra a sua frente. Quero que o espectador "veja" o meu objecto que esta entre aquele que está lá e o som que lhe é proporcionado.

Coisas a pensar: ainda não decidi que formas quero fazer, se quero fazer objectos inanimados ou pessoas e animais, ou se quero recriar um cenário (ex. uma carruagem de metro). Em termos de dificuldades técnicas, tenho de descobrir se vale a pena fazer através de imagem, mas para isso tinham se ser formas feitas de televisões (por exemplo), ou se vou para o lado dos infravermelhos. 

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Sonho

Era a minha festa de anos no guincho.

Estou sentada na minha sala, rodeada de pessoas que não gosto. Estas pessoas vêm falar comigo, mas estão a ser cínicas. Eu não respondo a nenhuma destas pessoas que me abordam e pergunto-me a mim mesma o que elas estão fazer em minha casa. Entretanto chega um grande amigo meu,  vestido de palhaço, e diz-me que não pode fazer isto e vai-se embora. Corro atrás dele em direcção à porta e choco contra o meu irmão, que estava suposto trazer o almoço. Este está a carregar 20 caixas de ovos e diz-me: “Vamos fazer omeletes!”

Eu continuo atrás do meu amigo, agora por cima de uma mota, mas não estou a guiá-la, mas sim ás cavalitas de outra pessoa que está a conduzir a mota. Eu consigo ver também o meu amigo à minha frente numa mota também, mas o meu “modo de visão” vai alternando entre os olhos da pessoa que está a guiar a mota onde eu estou e os meus olhos. Mais à frente está uma vala e o meu amigo cai, ficando por debaixo da moto. Eu saio da minha mota, não sei bem como porque passei imediatamente para o lado dele e começo a gritar por socorro.


terça-feira, 14 de outubro de 2008

Escrita Automática

1. Parágrafo,  Ponto,  drogas  ver, ser, pensar algo, nada, quero, pois, achas, não sei nada, vazio, farta, verde, branco, luz. Se não vejo não é branco, papel, fechado, não quero, balões, queimado, vidro, passar através, passar, venda, labirinto, cheio, andar, parede, maçaneta, porta, luz, cego, grão, ouvir ruído branco, desligar, imagens, ruído, cair, cinzento, botão, dormente, apagado, só, olhar, vagear, não ouso nada. Cala-te! Para pensar, cabeça, seco, continuar, passo, trote, sino, sombra, tegua, toque, três, pum, reverberação, passos.


1.     2. Pedras, uma, duas. Não. Pára. Sei lá, língua, vrum vrum, escreve, tic tic tic tic tic, ritmo, tu turu turu, toc toc toc , Pára, falar, snap, rrrrrrrr, Pára de falar. Ouvir, continuo a ouvir, vreme vreme, ploc, zum zum zum, Pára! Acende, acentuar, copo, blablabla, tic tic, crum crum crum, toc, pássaro, cor, não ver, inspirar, tiritiritiri, grilo, catatua, vela, azedo, queixar, verde, lápis, crunch crunch, catalizador, trópico, calar, degustação, vinhos, pasta, trum, arrasto, clicar, pastilha, carta.

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Algo

The Man With The Beautiful Eyes

When we were kids

there was a strange house

All the shades were always drawn

and we never heard voices in there

And the yard was full of bamboo

and we liked to play in the bamboo

Pretend we were Tarzan

(although there was no Jane).

And there was a fish pond

A large one full of the

Fattest goldfish you ever saw

and they were tame.

They came to the surface of the water

and took pieces of bread from our hands.

Our parents had told us:“never go near that house.”

so, of course,we went.

We wondered if anybody lived there.

weeks went by and we never saw anybody.

Then one day we heard a voice from the house

“YOU GOD DAMNED WHORE!”

It was a man’s voice.

Then the screen door of the house was flung open

and the man walked out.

He was holding a fifth of whiskey in his right hand.

He was about 30.

He had a cigar in his mouth,

needed a shave.

His hair was wild and uncombed

and he was barefoot in undershirt and pants.

But his eyes were bright.

they blazed with brightness 

and he said, “hey little gentlemen,

having a good time, I hope?”

Then he gave a little laugh

and walked back into the house.

We left, 

went back to my parent’s yard and thought about it.

Our parents, we decided

had wanted us to stay away from there

because they never wanted us to see a man like that,

a strong natural man with beautiful eyes.

Our parents were ashamed 

that they were not like that man,

that’s why they wanted us to stay away.

But we went back to that house

and the bamboo and the tame goldfish.

We went back many times 

for many weeks

but we never saw or heard the man again.

The shades were down as always

and it was quiet.

Then one day as we came back from school

we saw the house.

It had burned down,

there was nothing left,

just a smoldering twisted black foundation

and we went to the fish pond

and there was no water in it

and the fat orange goldfish were dead there,

drying out.

We went back to my parents’ yard

and talked about it

and decided that our parents had burned their house down,

had killed them

had killed the goldfish because it was all too beautiful,

even the bamboo forest had burned.

They had been afraid of the man with the beautiful eyes.

and we were afraid then that all through our lives

things like that would happen,

that nobody wanted anybody to be strong and beautiful like that,

that others would never allow it,

and that many people would have to die.



from The Last Night on Earth Poems by

Charles Bukowski